Os protestos contra as operações de imigração do presidente Donald Trump se espalharam da Califórnia para outras cidades dos EUA, com centenas de manifestações previstas para sábado (14) em todo o país.

A decisão de Trump de enviar tropas para Los Angeles, contrariando o governador da Califórnia, Gavin Newsom, gerou um debate nacional sobre o uso do Exército em solo americano. A istração Newsom processou o governo federal por causa do envio.

Os 700 fuzileiros navais e 4.000 tropas da Guarda Nacional enviados a Los Angeles, conforme ordem de Trump, não têm autoridade para prender, disse o major-general do Exército Scott Sherman, comandante das tropas.

No entanto, Sherman afirmou que eles podem deter temporariamente indivíduos até que a polícia faça a prisão, se necessário para proteger pessoal ou propriedades federais.

Os fuzileiros, que treinavam em Seal Beach, ao sul do condado de Los Angeles, vão se deslocar para a cidade “em breve”, mas não nesta quarta-feira, afirmou Sherman. Eles não portarão munição real nos rifles, acrescentou.

Um oficial americano, que falou sob anonimato, disse que os comentários de Sherman refletem as regras normais de engajamento e não indicam ampliação das autoridades.

Além de proteger prédios e pessoal do governo, o Pentágono informou que as tropas também irão proteger agentes do ICE durante as operações.

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Na terça-feira (10), o ICE publicou fotos nas redes sociais mostrando tropas da Guarda Nacional armadas enquanto agentes algemavam supostos imigrantes ao lado de um carro em Los Angeles.

Uma lei de 1878, conhecida como Posse Comitatus Act, geralmente proíbe o Exército dos EUA, incluindo a Guarda Nacional, de participar da aplicação da lei civil.

As tropas na Califórnia foram destacadas com base em uma lei federal separada que não anula a proibição do Posse Comitatus Act, mas permite que elas protejam agentes federais que realizam atividades de aplicação da lei. Por exemplo, tropas da Guarda Nacional não podem prender manifestantes, mas podem proteger agentes do ICE que estejam efetuando prisões.

O procurador-geral da Califórnia, Rob Bonta, cujo escritório entrou com o processo contra as ordens de envio de tropas de Trump, disse à Reuters na terça-feira que permitir que tropas acompanhem agentes do ICE nas comunidades pode levar a possíveis violações da lei, dada a linha tênue entre proteção e ação de aplicação da lei.

Sherman não informou um número específico de operações em que as tropas acompanharam agentes do ICE, mas disse aos repórteres que cerca de 1.000 soldados participaram de ações para proteger prédios federais e a aplicação da lei.

A istração Trump respondeu na quarta-feira ao processo da Califórnia em uma apresentação ao tribunal, antes da audiência marcada para quinta-feira, argumentando que o presidente tem a discricionariedade para decidir se uma "rebelião ou perigo de rebelião" exige uma resposta militar.

Protestos se espalham pelos Estados Unidos

Trump afirmou que o envio de tropas militares a Los Angeles evitou que a violência — que incluiu alguns confrontos entre manifestantes e a polícia — saísse do controle, afirmação que Newsom e outros autoridades locais consideram falsa.

Os protestos, que começaram na sexta-feira (6) após as operações federais de imigração na cidade, têm sido em sua maior parte pacíficos e s a cerca de cinco ruas no centro da cidade.

A prefeita de Los Angeles, Karen Bass, impôs um toque de recolher em uma área de pouco mais de um quilômetro quadrado no centro da cidade a partir da noite de terça-feira, após o saque a alguns estabelecimentos comerciais.

O Departamento de Polícia de Los Angeles informou que prendeu 225 pessoas na terça-feira, sendo 203 por não dispersar e 17 por violar o toque de recolher.

Em outras cidades, manifestantes marcharam na noite de terça-feira em Nova York, Atlanta e Chicago, entoando slogans contra o ICE e, em alguns momentos, confrontando as forças de segurança.

O governador do Texas, o republicano Greg Abbott, anunciou que vai enviar a Guarda Nacional na quarta-feira, antes dos protestos planejados em San Antonio e outras regiões do estado, tornando-se o primeiro governador a tomar essa medida.

Os protestos devem se intensificar no sábado, quando vários grupos ativistas planejam mais de 1.800 manifestações contra Trump em todo o país. Nesse dia, tanques e outros veículos blindados desfilarão pelas ruas de Washington, D.C., em uma parada militar que celebra os 250 anos do Exército dos EUA e coincide com o 79º aniversário de Trump.

Uma coalizão chamada “No Kings” planejou manifestações e outros eventos em mais de 1.800 locais nos EUA no sábado.

Trump alertou que qualquer manifestante na parada será recebido com “força muito grande”. Milhares de agentes, policiais e especialistas de diversas forças de segurança do país estão sendo mobilizados para o evento.

A coalizão No Kings reúne mais de 100 grupos de direitos civis e outras organizações, e afirma que planeja protestos pacíficos contra Trump e as políticas de sua istração.

O ime em Los Angeles é o ponto mais intenso na tentativa da istração Trump de deportar migrantes vivendo ilegalmente no país.

O Departamento de Segurança Interna, órgão superior do ICE, informou na segunda-feira que o ICE tem prendido cerca de 2.000 infratores de imigração por dia recentemente, muito acima da média diária de 311 no ano fiscal de 2024, durante a gestão do ex-presidente Joe Biden.

“O presidente Trump prometeu realizar a maior campanha de deportações em massa da história americana, e os distúrbios de esquerda não o impedirão nesse esforço”, disse a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, na quarta-feira.

Uma operação de imigração na terça-feira, em uma fábrica de carnes em Omaha, Nebraska, foi a “maior ação de fiscalização em locais de trabalho” no estado durante o governo Trump, informou o Departamento de Segurança Interna. O congressista republicano Don Bacon disse à imprensa local que 75 a 80 pessoas foram detidas.

A empresa Glenn Valley Foods afirmou ter ficado surpresa com a operação e que seguia as regras relativas ao status migratório dos funcionários.

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